quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fundamental é mesmo ler, é impossível ser feliz burrinho.


Esses dias atrás me rendia ao fenômeno "Crepúsculo", e pensava a respeito do meu grande amor pela literatura.
Os livros da saga são como os filmes: sem graça! Não sei porque fez tanto sucesso, eu li apenas porque me falavam tanto que os livros eram melhores que os filmes que fiquei curiosa.
Não, não são. Para mim o filme tem dois atrativos: o fato de eu adorar estórias sobre vampiros e o moço lindo que faz o vampiro do filme. O livro tem um atrativo, e no quesito estória, fica tanto a desejar quanto o filme.
Mas li, fervorosamente, fiquei presa pela minha curiosidade mórbida a um português medonho, que eu poderia dizer que a pessoa que fez as traduções pode até saber inglês, mas faltou às aulas de português com tanto fervor quanto os deputados faltam às seções da câmara. E isso só é perdoável se a diversão do livro não deixar que você observe os impropérios linguísticos.

Isso me deu o que pensar sobre tantos outros livros que amo e odeio. Tenho ânsia de pensar em best sellers, abomino livros de auto-ajuda, desprezo romances água com açucar e tenho um sério problema com os clássicos. E, sim, eu amo ler! Gasto horas e horas, dias e dias, semanas, meses, anos, nessa atividade que pra mim é uma das melhores já inventadas no universo.

Então por que tanto problema com os objetos de uma das minhas atividades favoritas? Respondo a vocês que como tudo na vida, a leitura pra mim tem que me despertar interesse, tem que me divertir, me emocionar, me fazer perder o sono, me prender, e acima de tudo, ela sempre vai me fazer pensar, e daí vêm os problemas. Sou uma crítica por natureza. Critico tudo, questiono tudo, exceto a supremacia da minha opinião e das coisas que eu acredito. É queridos, eu na verdade nunca ouço ninguém. Minhas opiniões são pra mim tão minhas quanto meu próprio cérebro, não vivo sem. Posso até mudá-las, mas sempre é por iniciativa própria.

Em relação aos best sellers confesso que é puro preconceito, mas quando esqueço isso e dou uma chance ao senso comum, lá vem mais uma decepção. O senso comum não tem senso, é isso que penso. Portanto prefiro aquilo que poucos e bons recomendam. É claro que existem exceções, alguns livros excepcionais acabaram curiosamente na lista de best sellers, provando que o senso comum raras vezes tem senso. Ou casos de típicos livros da moda que são fantásticos, como acontece com o Harry Potter. É divertidíssimo, e aqui sim, mil vezes melhores que os filmes.

Livros de auto-ajuda só ajudam quem os escreveu e as editoras que os publicaram. Se realmente se prestassem ao que prometem, seria impressionante a quantidade de pessoas ricas, de chefes eficientes, de mulheres poderosas, de gurus e de casamentos perfeitos. Não vejo nada disso mudar porque os livros venderam como água. Pegue o dinheiro que ia gastar no livro e jogue na loteria, tem uma chance maior de o seu problema ser resolvido.

Romances água com açucar têm lá o seu valor, desde que consiga prender o meu senso crítico até o fim do livro. E isso é difícil. Eu não acredito em amores eternos, não acredito em contos de fadas, embora adore os filmes da Disney, e vivo com o pé fincado na chão. Acho um absurdo alguém que acha que se matar por um amor não correspondido é lindo. Pra mim é estupidez, e falta de amor próprio. E aí fica minha primeira crítica ao clássico Romeu e Julieta. Amores precisam ser alimentados e cuidados. As pessoas têm limites, os sentimentos também. Amor eterno é igual felizes para sempre, não existe. As coisas têm prazos de validade, e tanto a vida quantos os amores são feitos de conjuntos, momentos felizes, momentos tristes, dar e receber. No caso da vida se a balança pesa, as pessoas têm depressão, mudam drasticamente... no caso dos amores, eles mudam também, se a balança pesa, eles viram desprezo, ódio, indiferença, e algumas vezes doença. Assim, os romances pra mim têm que vir revestidos de realidade, se não, não tem graça. Adoro ficção, adoro coisas improváveis, mas por algum motivo minha cabeça não aceita esses romances irreais. Talvez seja uma vacina pra eu não acreditar em príncipes encantados. Mas é isso, o sentimento real é que me faz acreditar no romance. Por mais irreal que sejam as outras coisas, como vampiros por exemplo. Eu preciso identificar o sentimento, saber que posso sentir aquilo.

Na minha visão de romance o Drácula de Bram Stoker tem um lugar especial. Acho lindo mesmo o egoísmo dele. E é tão real porque ele quer ela pra si, não importa se pra isso ela seria infeliz pra sempre. Tenho loucura por E o vento levou... como um romance pode ser mais real que aquilo? O eterno desencontro... Cem anos de solidão me deixa sem fala, a luta contra o que tem que acontecer. Tudo tão humano, tudo tão provável de acontecer com você amanhã. Não é o cenário de ficção que me afasta, e sim a invenção de sentimentos. Como eu vou me identificar com um sentimento que ninguém é capaz de ter? E se alguém me disser que já conheceu um amor eterno, vou cobrar como Vinícius de Moraes a certidão passada em cartório do céu e assinada por Deus.

E aí chego aos clássicos... e à minha obsessão pelo meu infalível bom senso. Considero que alguns livros são absurdamente bem escritos, inovaram em tantos quesitos da literatura que nunca perderam o status de "a coisinha mais bem feita nos últimos tempos", mas alguns são tão insossos, outros tão distantes, e outros tão chatos que eu absolutamente perco o interesse por eles nas primeiras páginas. Já confessei como não suporto Romeu e Julieta, embora ache Shakespeare um gênio, amor à primeira vista que termina em suicídio de gente que não sabe nada da vida me dá raiva só de pensar. Machado de Assis pra mim é a cereja do creme, mas Dom Casmurro está longe de ficar na minha lista de favoritos. Prefiro mil vezes Memórias póstumas de Brás Cubas, que eu já quase decorei de tanto ler, o sarcasmo é que me compra. Dom Quixote pra mim, melhor faria se fosse poesia. Mas a verdade é que os clássicos são clássicos, embora gente como eu possa não gostar deles muitas vezes, eles têm um valor inestimável. Não lê-los é como não ter um pretinho básico no armário, vai ficar sempre um vazio, vai sempre fazer falta.

Mas gente, por favor, esse negócio de sonhar com Romeu e Julieta é tão idiota quanto rasgar dinheiro! Amor à primeira vista não existe, é paixão. Amor eterno, morre. E só morre de amor quem não sente um pingo dele, nem por si mesmo.