quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mais do mesmo.

Quando eu estudei biologia, aprendi que "nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Depois no curso de direito, aprendi que "nada se cria, tudo se copia", e pelo jeito a máxima ultrapassou as portas das vetustas casas do saber jurídico e se apoderou do mundo. Me pergunto se a criatividade foi se desgastando com o tempo ou se a burrice é que está realmente "tomando conta".

Por onde andam os músicos que inventavam ritmos, criavam sinfonias ouvidas por séculos a fio, compunham canções que nos faziam pensar e tocavam fundos nossos sentimentos mais íntimos? As coisas boas ainda feitas, salvo raras exceções, são de músicos que iniciaram suas carreiras há pelo menos 20 anos em média. A tão falada música eletrônica é só um arranjo em cima de músicas e ritmos criados pelos representantes de outros gêneros musicais. Gostaria de saber quem dos super fãs de música eletrônica ouve hoje ainda o sucesso que eles adooooravam ano passado. Ou qual o grande mérito dos cantores sertanejos que vendem seus discos como água, regravando as músicas com as quais outros cantores fizeram sucesso há tempos atrás.

Quando olho pra moda, uma outra arte que adoro, vejo se repetirem nas passarelas os modelos desfilados por grandes estilistas com pequenas modificações e se tornando peças aclamadas pela crítica como se fossem a coisa mais criativa do mundo. Criativos mesmo perdem seus empregos, suas marcas entram em falência, como aconteceu com Christian Lacroix.

O cinema anda tão chocho que já sabemos o fim dos filmes antes de começarem. Fico muito feliz quando vejo filmes excelentes como "O cisne negro", porque anda faltando o que ver. Tarantino com todo o seu savoir-faire, nem fazendo um filme com o tema favorito da academia conseguiu levar a estatueta por Bastardos inglórios. E quem levou? Um dos filmes mais sem conteúdo e repetitivos que já vi. O tema? Batido! O enfoque? Batido! Juro que achei que o vencedor seria Avatar, apesar dos pesares, pelo menos tem lá os seus méritos por ser pura ficção e algo diferente. Mas Guerra ao terror, o grande vencedor? Sem comentários!

Os livros padecem de conteúdo e de novidade tanto quanto os filmes. Choro de lembrar que os meus autores favoritos já faleceram ou estão em vias de (não é desejando a morte de ninguém né, mas ninguém é eterno e todos já passaram dos 60). Quanto mais vendido é um livro, mais desgosto eu tenho ao lê-lo. Mas como já falei dos livros especificamente aqui, só digo que o legal agora é encher o máximo de páginas com o mínimo de conteúdo, e saber que aqueles livros eternos, que você lia várias vezes não têm o menor valor pra indústria do mais do mesmo. Quanto mais você lê o mesmo livro, menos dinheiro eles ganham vendendo a mesma coisa pra você com novos créditos e novos velhos personagens e histórias.

A TV tem dado até medo. A aberta então, melhor nem ligar. Tenho engulhos quando vejo a quantidade de gente que passa horas do dia acompanhando BBB. Um amigo me falou uma vez que se eu gostava de ir ao zoológico, eu tinha que gostar de BBB, porque era o mesmo que ver o animal humano em uma jaula. Olha, se a humanidade é percentualmente acéfala como os participantes deste programa, a gente pode parar de se chamar de raça inteligente. Porque, juro, os meus gatos são mais inteligentes que a maior parte das pessoas que pisaram naquela casa. E quando leio no "Te dou um dado?" que uma das participantes perguntou se ainda existia macaco, eu confirmo que os macacos estão vários passos a frente desses exemplares da raça humana na cadeia evolutiva.

Li uma vez um filósofo que dizia que a cultura de massa tinha tantos adeptos porque a maioria das pessoas não gosta de pensar, prefere ser comandado, gostar do que todo mundo gosta, usar o que todo mundo usa, falar o que todo mundo fala, e agir como todo mundo age. Vejo aí muito sentido. Se as pessoas não gostam de pensar, se não têm capacidade pra isso ou se apenas se deixam levar por "todo mundo", eu não sei. O que sei é que está acontecendo um empobrecimento generalizado da cultura, embora estejamos vivendo o século em que as pessoas têm mais acesso a qualquer coisa.

Acredito que a indústria do consumo de massa seja a maior responsável por isso. Os 15 minutos de fama geram muito mais dinheiro do que desenvolver um artista de verdade. Se as pessoas se contentam com pouco, se temem ousar, pensar, sentir, mais fácil é jogar qualquer coisa no mercado e com um bom marketing fazer o melhor negócio do mundo. Criar leva tempo, exige raciocínio, dedicação e um quê de inteligência diferenciada. Copiar, qualquer um copia. Até máquina copia.

Sinto muito pelas gerações que estão tendo contato agora com determinadas áreas de cultura. Porque ou vão sofrer de um mau gosto absurdo e serem convencidas de que aquilo é bom, ou vão viver com uma sensação de viver no passado. Penso eu que melhor ser vintage que ouvir Restart, assistir BBB, ler "O símbolo perdido" ou "Porque os homens amam mulheres poderosas" (porque tá aí a maior mentira que alguém já escreveu na vida, não conheço se quer um homem que goste de uma mulher mais poderosa que ele, só se pra quem escreveu isso aí poderosa é igual a gostosa, aí tá certíssimo!).

Tenho medo da cultura do efêmero, do volátil e do niilismo. Tenho sérias suspeitas de que emburrecer as pessoas, darem a elas muito circo e nada pra pensar é uma conspiração secreta pra nos transformar a todos em ovelhas. De que adianta liberdade de escolha se não há o que escolher? Que diferença faz escolher entre BBB ou a Fazenda?

Salve o espírito dos críticos, dos que questionam e se recusam a viver como todo mundo. Palmas pra quem tem coragem! Viva os que pensam, porque isso tem se tornado cada vez mais raro. Muita informação e pouco conhecimento. Espero que quando virarmos todos ovelhas, eu possa ser pelo menos uma ovelha negra. Pelo menos isso.

Aí ao terminar este texto me deparo com a biografia de Justin Bieber entre os mais vendidos. E chego à conclusão que a coisa está bem pior do que eu pensava!! Deus por favor reencarna o Machado de Assis?!