terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Na rua dos bobos, número zero.

Desastrada é uma palavra que me define muito bem. Mas mais que isso sou azarada também. Tem certas coisas que só acontecem comigo. Sal grosso pra mim tem que ser de tonelada.

Eu escolhi sem querer a rua mais perigosa da cidade para morar, até aí normal já que fui eu que escolhi. O triste é ter que andar nessa tal rua duas vezes ao dia.

No início, antes de eu saber que tinha escolhido o antro da bandidagem pra morar, eu andava desatenta e alegre pela minha ladeira, achando que estava em um lugar tão seguro quanto a barriga da minha mãe. Mas um dia, como eu tenho imã pra encrenca, a encrenca me encontrou. E não veio sozinha! Dois distintos cavalheiros, depois de me gritarem palavras de altíssimo calão, me socarem e empurrarem, levaram minha bolsa e toda a parafernália e equipamento de pesca que eu levava dentro dela.

Triste e deprimida ainda gritei como se tivesse tido um orgasmo quando descobri que o meu celular tinha ficado escondido. Espertinho! Salvou minha agenda e isso é a parte mais importante do equipamento de pesca.

Desde então perdi o rebolado. Já que estava cercada de malfeitores, passei a andar paranóica, parecendo uma antena parabólica, capitando tudo que estivesse em um raio de 200 metros de mim. Eu sei que as parabólicas são mais potentes, né, gente! Mas, olha, para mim, que não tenho super poder nem sou mutante, já é um feito e tanto.

Nessa brincadeira de radar, um belo dia, andando com a minha anteninha ligada eu o avistei. De início, só achei estranho o local em que o indivíduo estava parado, um bequinho que fica perto do ponto de ônibus, e já fiquei cabreira: "que lugar é esse que esse cara tá parado?". Como já estou taxada de paranóica, resolvi tentar esquecer o assunto e continuar o meu caminho.

Mas era tarde demais, meus olhos já estavam presos àquele ser humano tentando avaliar sem sucesso "que P... é essa que esse gordinho de cabelo com gel está fazendo nesse bequinho".

E pronto, dei pra ele o que ele estava esperando, atenção. E numa fração de segundos, quando virei pra trás pra ver se ele não estava correndo atrás de mim, como os cavalheiros da outra história, eu vi.

As mãos segurando algo, manuseando mesmo. Aí, pensei, "ah é o cinto, devia estar fazendo xixi". E olhei de novo pra ver melhor, e "ah, socorro!! Não é um cinto, é um p...!!".

Entenderam agora o por que da rua dos bobos? Bobo é ele que vê graça em ficar mostrando de longe, bem longe mesmo o instrumento pra alguém que definitivamente se assunta e sai correndo ou boba sou eu que ainda não mudei de lá?

Se alguém souber de algum apartamento pra alugar do lado da delegacia me avisa? Pelo menos facilita fazer os B.Os.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A corrida pelo ouro de tolo.

Tenho observado com certo desdém as críticas à eleição do Palhaço Tiririca para a Câmara Federal, mas hoje me dei conta de que nada melhor se aplica ao povo brasileiro. Como diz o velho jargão "cada povo tem o governo que merece", nada mais adequado a um povo que se deixa fazer de palhaço do que eleger um palhaço pra representá-lo.

Não se assustem, abandonei por hora o tema "políticos". A minha indignação está direcionada a outra coisa. Há muito tempo discuto, com a paixão que me é de costume, o sistema de organização de programas culturais no Brasil. E mais uma vez, o show do U2 me prova como somos feitos de idiotas por todas essas empresas que alegam difundir a cultura pelo país, mas que na verdade só exploram os mal informados e conformados cidadãos brasileiros.

Me lembro com saudade da turnê Pop, na qual eu paguei justos R$45,00 reais por uma entrada, que foi comprada sem grandes sacrifícios por uma amiga. Não que a banda número 1 no meu coração não valha os R$180,00 cobrados agora, o triste é que esse valor parecer ser pouco para os desorganizadores do evento.

Passei horas durante 2 dias em frente ao computador tentando comprar os ingressos, tanto na pré-venda quanto na venda aberta, sem o menor sucesso. Quando depois de ficar com os dedos dormentes de tanto atualizar o site, este abria, os ingressos já estavam esgotados como por mágica. Conheço apenas 1 felizardo que conseguiu os valiosos ingressos, e me pergunto se o meu computador e a minha internet são tão piores do que os das agências de turismo que conseguiram centenas de ingressos e agora os vendem a preços exorbitantes.

Depois das tentativas frustradas de compra na internet, foi a vez de enrijecer os dedos nos botões de telefone, até consegui com certa facilidade cair no atendimento eletrônico. No entanto, depois de digitar o número do cartão de crédito e do CPF correta e pausadamente, recebi a seguinte resposta: "não entendi. Você excedeu o número de tentativas. Ligue novamente". Como excedi se eu digitei certo cara pálida? E não entendeu o que, quer que eu desenhe?

Hoje li na imprensa a indignação de milhares de fãs quanto ao número e valor de ingressos à venda nas agências de turismo. E faço coro às suas palavras. Duvido que a empresa que organiza o evento não esteja favorecendo essas agências. Simplesmente foge a toda a razão, que os fãs movidos por paixão, mesmo ficando horas e horas tentando não consigam comprar os ingressos que as agências distribuem com tanta facilidade a quantias vultuosas.

Para mim, é apenas mais uma forma de exploração dos brasileiros que confiam demais nas boas intenções dos empresários desse país. Eles visam o lucro e mais nada. Apenas descobriram um nicho com pouca concorrência e abriram os portões do paraíso. Enquanto os cachês das bandas são os mesmos, gostaria de saber o que justifica que os ingressos no Brasil sejam 4, 5 vezes mais caros que nos países da Europa e USA. Pelo que me consta, as atividades culturais são isentas de impostos, e inclusive contam com incentivo do governo. Não dá pra colocar a culpa na carga tributária dessa vez.

Será que é só por que a gente não reclama? Será que é só por que apesar de toda a palhaçada, ainda corremos desesperados por um ingresso não importa o que ele custe ou que nós sejamos ridicularizados por isso? Será que não basta de tanto desrespeito e exploração por parte dos nossos conterrâneos, que julgam que burro carrega carga sem sentir?

Estou sinceramente indignada, pra não dizer pior. Espero que o poder público e o Ministério Público passem a investigar essas empresas que estão longe de ser idôneas, porque eu sinceramente gostaria de saber pra onde foram todos esses ingressos.

Vai ver que também é culpa dos traficantes do Rio né? Podem procurar no Morro do Alemão que os ingressos do U2 estão todos lá!

Mas vamos lá gente, pintar a cara, porque mais uma vez os palhaços somos nós! Estou cansando desse papel

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tudo sobre minha mãe.

"Aí então poderei ser boa e caridosa como a mamãe"

Esta frase é de um dos meus livros favoritos, "E o vento levou...", que representa um trecho no qual a personagem Scarllet, com quem me assemelho muito, pensa nas coisas horríveis que está fazendo, que não são comportamento de uma dama, e lembra de sua mãe, uma autêntica dama do século XVII. Boa, caridosa, elegante e adorada por todos.

Em um dos aspectos que mais me assemelho com ela é em querer parecer a minha mãe sem contudo alcançar o feito em todos esses anos.

Desde criança tenho a oportunidade de conviver com uma mãe amorosa, abnegada, inteligente, dedicada, e com tantos atributos que eu não poderia descrever com justiça. A despeito de todas as discussões causadas pelo meu jeito mimado e impetuoso, ela sempre foi a pessoa que eu mais admiro no mundo.

Com o passar dos anos eu só tenho tido a certeza, cada vez maior que a imagem da santa, heroína, deusa e rainha que eu sempre identifiquei na minha mãe, é a melhor personificação do que ela realmente é.

Aquela figura esguia, de postura ereta, que fala baixo sem qualquer erro de português, que se move com elegância, sem fazer ruído, que ao mesmo tempo consegue tratar a todos de maneira agradável e com doçura, e que é incapaz de achar uma só criatura que não tenha uma qualidade pra se admirar, é o que todos podem chamar de uma verdadeira dama. Não são as roupas que usa, ou a forma como penteia os cabelos, não são as jóias ou os artigos de luxo que ela não usa que definem sua majestade, são aqueles gestos espontâneos efetuados com toda a elegância, são as palavras que usa para elogiar ou para criticar sem ofender quem quer que seja, e o seu bom coração.

Sempre ouvi de todos com quem convivo que não conhecem pessoa mais elegante, educada e fina que a minha mãe. Eu me sinto lisonjeada e concordo com ênfase.

Assim como a Scarlett, ainda não achei o resquício de genética que vai me fazer ser como ela. Sou desajeitada, desastrada, falo alto, e estou longe de ter a bondade da minha mãe. Mas nunca perco a esperança, vai ver que com o passar dos anos as semelhanças se acentuam e eu vou poder desfilar um pouquinho da grande dama que tive como mentora.